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Arcopédico:Reinventar sapatos com ciência

sexta-feira, 2 de setembro de 2016
Arcopédico:Reinventar sapatos com ciência

A comemorar 50 anos, a Arcopedico, marca portuguesa de calçado de conforto, está apostada em reinventar-se. Quer comprovar cientificamente o conforto dos sapatos que produz, tendo, para isso, desenvolvido, em parceria com a Universidade do Porto, um estudo internacional para conhecer a planta do pé da população mundial. Estudo esse que levou já ao pedido de registo de uma nova patente e que permitirá a chegada, lá para finais de 2018, de um produto “completamente inovador”. No imediato, está a lançar uma nova linha para homem, para a coleção de outono/inverno de 2017. “A criação de uma nova coleção, com o desenvolvimento de moldes, etc, é preparada com cerca de ano e meio de antecedência. E a resposta ao pedido de patente que fizemos será conhecido em fevereiro de 2017”, explicou ao Dinheiro Vivo Elio Parodi, neto do fundador da Arcopedico e um dos atuais administradores da empresa.

E não é por falta de vendas ou de crescimento que a Ropar, que detém a marca, resolveu avançar com este projeto que designou de Star Shoes. Na verdade, a faturação da Ropar mais do que duplicou nos últimos cinco anos, passando de seis para 13 milhões de euros. E o número de trabalhadores também, praticamente, duplicou. Mas a base do calçado da Arcopedico tem vindo a ser sucessivamente copiada, por todo o mundo, e a marca pretende “estar sempre um passo à frente da concorrência”.

A Arcopedico nasceu em 1966 pela mão de Elio Parodi, um inventor italiano, formado em Engenharia Química e em Medicina Biológica, casado com uma portuguesa e que, depois de participar num Congresso em Estocolmo, se interessou pelo tema da anatomia do pé. Regressado a Portugal desenvolveu aqueles que constituem hoje a linha Arcopedico Original, um de malha, totalmente ajustável à forma de qualquer pé, com a dita sola ultra-leve com um sistema de apoio duplo arco, que “assegura o suporte específico do arco do pé para um correto posicionamento da coluna vertebral”. Cinco décadas depois, a Arcopedico é uma marca reconhecida internacionalmente no segmento de conforto. Está presente em mais de 50 países com vendas dos 600 mil pares de sapatos ao ano. Com uma faturação de 13 milhões de euros em 2015, a Ropar exporta 90% da sua produção e tem nos Estados Unidos, Japão, Península Ibérica, Itália, Austrália e países do Norte da Europa os seus principais mercados. Mas a patente original de Elio Parodi caducou e os sapatos Arcopedico passaram a ser copiados em todo o mundo. A alternativa foi diversificar e alargar a base de clientes. Hoje, a marca tem já quatro linhas de produtos distintos. A Original, com as gáspeas (a parte superior do sapato) em malha tricotada, a Nature, em pele de vestuário, muito fina e suave, a Relax, em licra, e a Lytech, um material ecológico que permite dar aos sapatos uma consistência próxima da pele, mas com grande elasticidade. Tem, também, alguns modelos, limitados, para homem, mas 99% do que produz é calçado de senhora. E, por isso, está, agora, em desenvolvimento a linha masculina. Porquê, então, o estudo Star Shoes? “Sempre tivemos a noção de que poderíamos ir mais além com a nossa marca. Quisemos pegar na patente original, respeitando a base de duplo arco, mas desenvolver um sapato que, ao caminhar, se adaptasse a qualquer tipo de pé e tivesse um amortecimento que não gerasse demasiada fricção, mas fosse o mais suave possível”, explica Elio Parodi.

O estudo arrancou em janeiro de 2015, em parceria com o Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica (INEGI) da Universidade do Porto, e convidou 2400 clientes em 19 países a deixarem impressos os pés em caixas de espuma fenólica. “Com o recurso a técnicas de levantamento de forma e de processamento de imagem, criou-se uma base de dados informatizada que analisa a componente tridimensional da área plantar dos clientes da Arcopedico. Nunca tal tinha sido feito”, garante Mário Vaz, diretor do INEGI. O objetivo é integrar o conhecimento obtido por esta via, designadamente em termos de marcha e de postura, no processo produtivo da Ropar, desenvolvendo uma sola “ainda mais inovadora”. “Não nos faltam vendas, mas com as cópias a surgir em catadupa, sentimos que precisávamos de algo mais consistente para sermos únicos. Queremos manter as características do nosso produto, mas fornecer um upgrade do nosso calçado ao consumidor”, diz Elio Parodi, lembrando que os sapatos Arcopedico “não são propriamente baratos”. Estamos a falar de preços médios de 80 a 100 euros em Portugal, mas que rondam os 140 dólares nos EUA. A nova coleção começará a ser desenvolvida no início do ano. “Estamos a tentar perceber a melhor forma de utilizar toda esta inovação sem canibalizar o produto que já temos. Será, provavelmente, um sapato em pele, com mais design incorporado, e, claro, com um price target diferente”, sublinha o gestor. Sobre as cópias e as falsificações, Elio Parodi recusão valorizar em excesso o fenómeno. “Há-de sempre haver cópias. Quando uma marca é grande, a concorrência vem atrás. E serve de impulsionador a que estejamos, constantemente, a inovar”.

A nova patente, cujo registo ainda aguarda, traz, apesar de tudo, alguma tranquilidade. “Durante 15 anos poderemos trabalhar, tranquilamente, novos produtos, novas linhas e novos mercados”, sustenta. O estudo implicou um investimento de meio milhão de euros. Com a nova patente, a empresa admitir investir mais 800 mil euros no desenvolvimento de uma nova máquina, o que obrigará a ampliar as instalações, com a construção de um armazém de 10 mil metros quadrados. E levará, claro, à contratação de mais pessoas.

A Ropar dá emprego a 120 trabalhadores, 80 dos quais na área industrial. As restantes dividem-se entre as sete lojas próprias que a marca dispõe em Portugal (no Dolce Vita Tejo, na Rua de Santa Catarina, no Porto, e no Nassica, o outlet em Vila do Conde) e Espanha (Madrid, Barcelona, Vigo e Sevilha) e a franchisada, em Setúbal. Em termos de expansão no retalho, o objetivo é abrir mais três lojas em Espanha, mas não muito mais do que isso. Bilbao, Málaga e eventualmente Tenerife, onde têm uma proposta de um potencial franchisado, são as cidades em vista.

Fonte: www.dinheirovivo.pt/
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